Tuesday 24 February 2009

Madrugadas Insanas #9

A manhã fria foi um pouco piedosa, o sol enorme, rico, ouro puro no azul do céu fez questão de emitir longos e tênues raios naquela superfície. Alguns raios eram tão poderosos que conseguiam driblar as folhas que tentavam fazer um muro. 

Ela nunca fora muito resistente à claridade, portanto foi a primeira a abrir os olhos. Estava com o nariz encostado no ombro dele. No seu campo de visão só era possível enxergar a garrafa de vinho vazio, provavelmente rolou pra longe durante a noite.

Tentou não acordar o garoto mas precisava olhar no relógio que horas eram, mas seus movimentos fizeram com que ele se espreguiçasse e enfim ficasse alerta. 

"Hey" - disse. "Hey you" - respondeu ela.  Ficaram durante muito tempo olhando dentro do olho um do outro buscando uma sensação, um sentido, uma explicação para aquela série de eventos que soavam tão absurdos na noite anterior mas que foram simplesmente para o espaço depois de um simples toque de lábios.

Mesmo querendo acreditar que sim, teriam uma chance, uma única ficha para apostar, sabia que o mundo era maior e as pessoas eram cruéis. Sabia que as palavras causam dor mesmo quando não tem ninguém que as pronuncie. E entendia que aquele não era o momento, era apenas uma confusão. Uma confusão que sempre existira e que estava despedindo-se.

E ambos sabiam que era insano, que não era de lei aquilo. Era das leis do coração mas não seria nada suportável. 

Olhou para ele e sorriu. Ficava extraordinariamente lindo deitado na grama e com cara de sono. Ela precisava ir embora. Uma lágrima rolou e ele também fechou seus olhos para chorar. Um suspiro, um grito, um pedido interior de coragem. Ela foi até os lábios dele e beijou-os com toda a intensidade que conseguiu.

E ele então fotografou a última imagem dela, partindo até virar uma sombra, depois fantasma, encoberta pelas árvores e o sol da manhã.

1 comment:

César said...

"Hey you, out there in the cold, getting lonely, getting old, can you feel me? [...] Hey you, don't help tem to bury the light. Don't give in without a fight. [...] Breaking bottles in the hall. [...]" (Pink Floyd)

Em se tratando de ti, ler sempre vale a pena ... a pena inquieta e incansável de "Freak"! Parabéns ... ever. Miss u too!