Monday 16 February 2009

Madrugadas Insanas #5

Não precisei de muita coisa, na realidade acho que nunca precisei de tantas coisas. Peguei apenas uma caneta com pouca tinta, um bloquinho que sempre ficava jogado nas profundezas da minha gaveta sem fim e pronto... ali eu comecei a escrever-me, a me pontuar. Fiz toda a minha sintaxe, verbalizei-me, classifiquei-me ora em subordinada, ora coordenada. Que falta de coordenação para escrever a si mesma... utilizando-se de metáforas mais do que previsíveis com o que lemos nas gramáticas. 

Mas ao contrário de verbos e sintagmas ninguém me verá escrita em um livro. Ou sim, quem sabe se esse pequeno fragmento de pessoa vos interessar, gostaria de mostrar o que ainda está por detrás da cortina. Não, não é fácil, sentimos vergonha de nos despir. Mais vergonha de despir-nos de nossos sentimentos e pudores do que deixar o vestido encontrar o chão. 

Me protejo porque não vejo outra saída. Tento me encontrar porque perdida não faço sentido e se não faço sentido não me encontro e se não me encontro, logo me perco e eis-me aqui novamente de volta à ideia inicial!

Além de dobrar na próxima esquina sem a perspectiva tola de achar alguém senão eu, percebo a cada bater de teclas o quanto é bom estar aqui, de frente comigo, ouvindo a música que eu gosto de ouvir, me furtando de mim mesma, me roubando da ilusão e me trazendo à uma realidade que pode sim ser boa porque nada passa de realidade quando nos iludimos, são apenas sonhos mal escritos... não são?

A noite cai... junto com ela, caem estrelas, caem as nuvens, caem os vestidos de meus pensamentos. Eles não encontram o chão, encontram algo que alguns chamam de fé, outros chamam de esperança, só chamo de liberdade. E pela primeira vez eu enxergo-a cintilante dentro dos meus belos olhos castanhos.

Quantos anos terão que passar para que o meu ponto interrogativo, cabisbaixo, cansado, erga-se finalmente para formar uma exclamação? 

1 comment:

César said...

Muito criativa essa figura que bolastes, do ponto interrogativo cabisbaixo e cansado, erguendo-se para formar uma exclamação!