Thursday 10 July 2008

Vinho tinto seco

Eu preciso te dizer que...bah, isso não era pra estar acontecendo. Tá, eu sei que a gente só se separa de alguém quando quer, porque quando tá fim de viver junto com aquela pessoa a gente vive. E não só quando é amor de amor, mas quando é amor de amizade também.
Tu és o que eu queria ser e às vezes eu acho que sou o que tu querias ser. E por que essa aproximação relâmpago, já vais embora, por que? Por quê?
Jogávamos todas as nossas risadas na taça de vinho tinto seco, que eu nunca gostei, mas tu dissestes pra mim que toda mulher solteira (ou que pelo menos viva sozinha) tem que aprender a gostar do vinho tinto seco porque o suave acaba repunando a gente com o tempo. Tá, até comecei a tomar o vinho tinto seco achando bom. Mesmo fazendo careta depois de cada gole.
E tu gostas de solos de guitarra, gostas das mesmas loucuras e por vezes é tão igual a mim que assusta. A gente via filme conversando sem se importar, porque duas criaturas como nós só poderia dar nisso: diálogos longos durante o filme, sem o menor problema. Afinal ouvir e falar são duas coisas que podem ser separadas e eu posso muito bem escutar o filme e escutar você sem nenhum problema e falar do que vi no filme e falar do que você falou.
Tu bem que me achou estranha naquele dia que fui dormir lá. É eu tava estranha em relação àquele assunto. É que é foda e tu sabes bem disso minha amiga...o cara tá longe. Muito longe. O dia em que 5000 km deixar de ser longe eu vou poder dizer que a situação não tá foda. Claro que tá. Claro que me machuca tantas vezes. Porém, mais me faz feliz do que triste.
E o teus casinhos hein? Em boa hora. É legal sair com uns caras aleatórios de vez em quando, despretensiosa, sem vontade ou sem oportunidade de se apaixonar. Mas eu sei que choras desesperadamente depois que ele vai embora e te deixa ali jogada na cama como quem passou por um tsunami. É foda amiga...é foda. E vai ser mais foda ainda sem ti. Tá, que a nossa distância é bem menor, mas porra...60 km...é pouco mas já to cansada dessa história de viver tão longe das pessoas que amo. É, eu te amo minha amiga. Não, não tem nada a ver com o lado gay da coisa. Tu és linda, inteligente, maravilhosa e engraçada mas eu não te namoraria por questões óbvias. Nem sei por que falo nisso, bom é preciso dizer né, pois sabe como as coisas são. Os escritores sempre correm o risco de serem mal compreendidos, um texto tem mil formas de interpretação desde que possam ser comprovados com passagens do texto e todas aquelas coisas que aprendemos nas aulas de Produção Textual. Eu sei que sempre acabo delirando e falando mais na faculdade do que em qualquer coisa mas ainda assim tu me entendes porque és tão apaixonada pelo curso quanto eu. Mas deixa. Ano que vem você é quem vai ignorar alguma colega que chegue atrasada te dizendo que não gosta de mitologia. Caraca eu não gosto mesmo de Mitologia, é muito nome, ta de repente uma coisa lá que outra eu goste mas não é sempre. Só que mesmo assim eu queria prestar atenção naquilo tudo.
Eu não quero te dizer adeus nunca porque é como se tu fosses uma versão melhorada de mim. Porque eu sempre achei que com 26 anos seria independente, nossa, é essa a visão que a gente faz quando é criança. Depois dos 20 estar longe de casa, visitando os pais no domingo e só. Só isso. Nada mais.
Ao contrário disso, to aqui com os meus 26 anos que não conseguem ser revelados nem no rosto, nem no jeito porque All Star é coisa de adolescente mas não é que eu ainda pense como adolescente é simplesmente o meu jeito e é assim e foda-se. E todas as noites me culpo e me absolvo por meia dúzia de coisas. Penso na minha família, ah bobagem, penso nada. Não penso em nada. Assisto episódio de séries sobre assassinos, comendo bolachas e tomando leite com Nescau. Aí apago a tevê com um sono que transcende. Penso nele. Penso muito nele. E acho que enxergas ele quando me vês e perguntas “como vai o amor?”
É, o amor só vai...e tu aí, vivendo um troço afudê. Me faz feliz saber que tá todo mundo bem. Todas as minhas melhores amigas estão super bem quando o assunto é amor. E parando pra pensar até eu tô bem, porque tu sabes né, incansavelmente repetimos e rimos quando falamos “dois postais, dois postais”, tu fica ironizando me chamando de “tesãozinho” mas sabes que isso é só ele quem pode fazer. E a gente ri. E bebemos mais uns goles de vinho tinto seco e reparamos que já estamos com as maçãs do rosto vermelhas então não resta mais nada além de cantar todas as músicas do Evanescence e enlouquecer a vizinhança.
É claro que eu vou querer sair contigo, conversar, tomar chimarrão e te contar tudo da minha vida. Porque enquanto tu cortavas as abóboras (de um jeito que só mulheres desajeitadas sabem, eu também tenho esse jeito, tenho medo de me cortar ao cortar a abóbora) eu te falei que existem pessoas que a gente sempre tem o que falar e sempre se sente à vontade pra falar de tudo. E eu sinto. Porque tu até me dissestes que eu tinha que aprender a cantar as músicas da Shakira porque a gente precisava cantar aquilo tudo que tinha muito a ver com a nossa alma feminina.
Mas e agora? Vens essa semana e já te vais, não dá tempo, simplesmente não dá. Me conta como que vai ser o esquema por lá. Mesma barbadinha que tava aqui? O horário tinha ficado show. Eu fico feliz que tenha te ajudado a “resolver a tua vida” como a gente brincava. Agora tá faltando tu resolveres a minha. O que é que eu faço hein? Me diz. Claro que eu amo ele, que pergunta bem absurda mas aí que tá, como que vou suportar essa saudade do que ainda não vivi se tu não vais estar aqui pra gente passear pelos corredores do supermercado e falar da vida? Será que eu vou conseguir suportar tudo isso sozinha? Será que eu reaprendi a precisar das pessoas? Eu já não sei de mais nada. Quem é que vai me emprestar os livros do Caio agora? Tô terminando de ler o Fragmentos...é tri bom. E tem umas partes que tu sublinhastes e eu pensei que era bem coisa tua mesmo.
Na real eu acho afudê que estejas indo pra tua casa. Não casa de espaço físico, mas casa do espaço que te pertence e te faz sentir viva. Essa é a melhor sensação de toda a vida. E um dia vamos nos encontrar, vários dias vamos nos encontrar pra falar do o –que-você-tem-feito-que-lindo-o-teu-cabelo-aiii-que-saudade-
que-eu-tava-de-ti!
Te ouvir falar dos teus amorzinhos e eu vou te falar do meu amor e que tá tudo bem, que ele é bem mais do que eu pensava.
Ainda conversaremos muito e beberemos todos os vinhos tintos secos. Tu, dançando Crazy e eu afogando as lágrimas no livro do Caio. Eu e tu de frente pro espelho mergulhadas num destino que a gente desconhece.

1 comment:

Rascunhos do Azimute said...

Você nem magina, mas eu achei muito legal o teu blog. Que abertura de coração!

Eu acho que você tem um futuro brilhante como escritora, sabia?

Esse jeito de prosa caiu muito bem...

Beijão...