Thursday, 22 November 2012

Desconhecido

Não sabe mais por que veio, por que foi
O que sentiu, o que deixou de sentir,

O que, enfim, cansou
O que demais ouviu
O que de menos teve

Tudo o que suportou, mesmo sem saber por que

Não sabe as perguntas
Não sabe a razão de questionar
Não sabe a resposta

É um desconhecido

Num rompante de raiva, explode

Desiste.

E vai embora.

Friday, 19 October 2012

A razão

Consciência não é arte
Nem a explosão da raiva.

A arte conscientiza. A arte inibe (?) a raiva.

E se depois da exacerbação
Vem o mesmo conformismo.

A arte desencadeia,
Ao tempo que nasce e morre a raiva.

Saturday, 21 July 2012

Excertos- Ulysses, James Joyce

"Eu era mais feliz naquela época. Ou será que não era eu? Ou será que agora eu sou eu? Vinteoito anos eu tinha. [...] Não dá pra fazer o tempo voltar atrás. Que nem segurar água na mão. Você voltaria àquele momento?"

- Monólogo interior de Leopold Bloom,-

JOYCE, James. Ulysses. Tradução de Caetano W. Galindo. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012. (p. 314)

Friday, 8 June 2012

Nudez - Carlos Drummond de Andrade

Não cantarei amores que não tenho,
e, quando tive, nunca celebrei.
Não cantarei o riso que não rira
e que, se risse, ofertaria a pobres.
Minha matéria é o nada.
Jamais ousei cantar algo de vida:
se o canto sai da boca ensimesmada,
é porque a brisa o trouxe, e o leva a brisa,
nem sabe a planta o vento que a visita.

Ou sabe? Algo de nós acaso se transmite,
mas tão disperso, e vago, tão estranho,
que, se regressa a mim que o apascentava,
o ouro suposto é nele cobre e estanho,
estanho e cobre,
e o que não é maleável deixa de ser nobre,
nem era amor aquilo que se amava.

Nem era dor aquilo que doía;
ou dói, agora, quando já se foi?
Que dor se sabe dor, e não se extingue?
(Não cantarei o mar: ele que se vingue
de meu silêncio, nesta concha.)

Que sentimento vive, e já prospera
cavando em nós a terra necessária
para se sepultar à moda austera
de quem vive sua morte?
Não cantarei o morto: é o próprio canto.
E já não sei do espanto,
da úmida assombração que vem do norte
e vai do sul, e, quatro, aos quatro ventos,
ajusta em mim seu terno de lamentos.
Não canto, pois não sei, e toda sílaba
acaso reunida
a sua irmã, em serpes irritadas vejo as duas.

Amador de serpentes, minha vida
passarei, sobre a relva debruçado,
a ver a linha curva que se estende,
ou se contrai e se atrai, além da pobre
área de luz de nossa geometria.
Estanho, estanho e cobre,
tais meus pecados, quanto mais fugi
do que enfim capturei, não mais visando
aos alvos imortais.

Ó descobrimento retardado
pela força de ver.
Ó encontro de mim, no meu silêncio,
configurado, repleto, numa casta
expressão de temor que se despede.
O golfo mais dourado me circunda
com apenas cerrar-se uma janela.
E já não brinco à luz. E dou notícia
estrita do que dorme,
sob placa de estanho, sonho informe,
um lembrar de raízes, ainda menos
um calar de serenos
desidratados, sublimes ossuários
sem ossos;
a morte sem os mortos; a perfeita
anulação do tempo em tempos vários,
essa nudez, enfim, além dos corpos,
a modelar campinas no vazio
da alma, que é apenas alma, e se dissolve.

O poema foi publicado originalmente em A vida passado a limpo. Esse edição da best bolso conta com a reunião de seis livros de poemas de Drummond.

Tuesday, 29 May 2012

As insuficiências de ser, inevitáveis, embargando a voz.